Por Rogério Carvalho-
A cultura pode ser entendida como toda produ-
ção resultante do trabalho humano. De forma mais específica, pode ser também entendida como o conjunto de elementos que caracterizam um determinado povo.
A cultura pode ser classificada de diversas maneiras. Existe a cultura ocidental, a cultura brasileira, a cultura de massas, a cultura erudita, etc.
Contudo, para a análise da relação entre a escola e a cultura, nos ateremos aos conceitos de cultural material e imaterial.
A cultura material se refere ao conjunto formado
pelas ferramentas e utensílios que utilizamos no cotidiano. É tudo aquilo que é palpável. A cultura de um povo, no entanto, não é formada apenas pelos bens materiais. Todas as manifestações culturais como os valores, as crenças, os costumes e as tradições fazem parte da
chamada cultura imaterial. A cultura imaterial se relaciona como sentido e o significado que os objetos e atos possuem para um determinado povo. Consiste nas suas festas religiosas, nos modos de fazer, na culinária, nas lendas, etc. Enfim, toda a memória transmitida geração
após geração. A escola, pela sua natureza, é o local onde os alunos vão aprender sobre cultura da humanidade. É basicamente com a cultura humana fragmentada em disciplinas que a escola lida. Mas a própria escolar ao sistematizar a transmissão desses elementos, acaba criando uma cultura própria, formada pelos seus
modos de fazer, pelos valores que prega, pelas regras, relações internas, etc.
A cultura escolar se perpetua ao enquadrar os
novos funcionários e alunos às suas concepções, sendo aqueles que desafiam sua cultura organizacional, considerados inapropriados e desajustados. Faz parte da cultura escolar a
concepção do perfil do aluno ideal: comportado, estudioso e asseado. Alunos com esse perfil são exaltados por professores sem sensibilidade para entender que os que são a antítese desse perfil, não o são por escolha.
Do lado de fora dos muros da escola fervilha a
cultura popular impregnada de multiculturalismo e diversidade. A cultura popular é o conjunto de elementos que caracterizam um determinado povo ou comunidade. É a tradição popular ancestral. Desta concepção, se aproxima bastante da ideia de cultura de massa, sendo esta, no entanto, um tanto mais volátil por ser constituí-
da por elementos efêmeros como modismos, tendências, etc. É óbvio que tanto os alunos quanto os professores, uma vez filhos da sociedade, são influenciados pela cultura popular e que tendem a levá-la dentro da escola sendo suprimida pela pressão da cultura escolar.
Um dos grandes desafios da escola na atualidade é promover um convívio produtivo entre a cultura escolar e a cultura popular. Não há nada mais significativo para a aprendizagem do que a aproximação entre a realidade cultural do aluno e os conteúdos propostos pela escola.
Não se pode chegar a tal propósito sem que se
derrubem os muros da escola para que a cultura popular possa entrar confrontando a cultura escolar e com ela dialogando. Ao levar em conta as realidades e as necessidades dos alunos, se atribui aos mesmos o poder de
serem protagonistas da própria formação. Condição queblhes é negada diante da prioridade institucional de se reproduzir dogmaticamente as verdades curriculares.
Por fim, seria mais apropriado dizer que os alunos não querem o que lhes é oferecido do modo que é. Essa consciência é fundamental para que se possa reverter a ideia de que o magistério caminha derradeiramente para
a obsolêscencia.
(Trecho do livro “Professor- A Ressignificação do Fazer Escolar).
* Rogério Carvalho é professor de História e autor de ” Construção da Identidade Cultural Buziana” e “Professor- A Ressignificação do Fazer Escolar.”
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