No dia 01 de janeiro, o Terreiro das Salinas, de tradição Jeje-nagô, localizado no Município de São José da Coroa Grande, no Litoral Sul do estado, foi alvo de um incêndio.
Após a realização de rituais religiosos durante a passagem do ano, membros deixaram o terreiro.
Por volta das 7h da manhã do dia seguinte, um vizinho informou aos responsáveis pelo local. Constituído majoritariamente por palha e madeira, as chamas se espalharam rapidamente.
Gilmara Santana foi a primeira pessoa a chegar ao local. Segundo ela, o terreiro foi consumido em menos de uma hora. “Fomos lá para orar na passagem do ano, e saímos por volta da meia noite e meia. No dia seguinte, pela manhã, fomos avisados do incêndio. Era uma fumaça densa, com cheiro de produtos inflamáveis. Queimou tudo muito rápido, não deu tempo de chamar os bombeiros”, disse.
A assessoria do terreiro, por meio de nota, disse que o ato é um exemplo claro de racismo. “Não é de hoje que os terreiros das religiões de matriz africana, afro-brasileira e afro-indígena tem sido alvo constante das violências, intolerâncias e racismo religioso que tenta impedir a realização de nossos rituais, da adoração aos nossos orixás e entidades sagradas. No entanto, ver a nossa casa de axé, nosso local sagrado, onde depositamos nossa fé, onde construímos cada canto com nosso suor e devoção em chamas é violento e perturbador”.
Ainda de acordo com a assessoria, esse ato de violência não acabará com as atividades do local. “Fomos violentados, tivemos nosso direito à fé interrompido, fomos vítimas de forma brutal do racismo religioso. Muitas questões passam pela nossa cabeça, no entanto, sabemos que nosso sagrado habita em nós, que a espiritualidade está ao nosso lado. Os igbas, os taças são representatividade de tudo que acreditamos, e o que aconteceu foi uma tentativa de apagamento, de silenciamento e opressão, mas que não nos impedirá de continuar a cultuar nosso sagrado”, afirmara em nota.
Os procedimentos jurídicos e legais estão sendo tomados com apoio do Projeto Oxé – atendimento jurídico e psicossocial contra o racismo. Na manhã desta segunda-feira (03), foi feita a abertura no Boletim de Ocorrência na Delegacia de São José da Coroa Grande, onde se aguarda a conclusão do inquérito policial. Também foi feita a entrada num pedido de investigação ao Ministério Público de Pernambuco.
O Terreiro das Salinas foi fundado há dois anos pelo babalorixá Lívio Martins, realiza diversos trabalhos sociais na região, como por exemplo, a distribuição semanal de sopa, reforço escolar gratuito às crianças e entrega de cestas básicas da Campanha Tem Gente Com Fome, da Coalizão Negra por Direitos.
(Com informações do G1)
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