O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou os resultados do Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira –, um termômetro criado em 2007 para medir a qualidade do ensino público e privado no país.
Mesmo com a pandemia, como já se esperava houve pouca variação em relação à edição anterior, de 2019, o que faz com que os novos dados sejam analisados com cautela, pois dão a entender que não houve retrocesso na educação brasileira nos últimos dois anos.
Nos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo, o Ideb nacional foi de 5,8, muito próximo dos 5,9 de antes da pandemia, ou seja, parece que as crianças não enfrentaram dificuldades nos processos de alfabetização à distância, o que não é verdade. A porcentagem de crianças do 2º ano do ensino fundamental que ainda não sabem ler e escrever mais que dobrou.
Nos anos finais do ensino fundamental, o Ideb ainda subiu, de 4,9 para 5,1), e no ensino médio, ficou estacionado em 4,2. Como isso se explica? Na pandemia, por recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE), algumas redes adotaram a política de não reprovar ninguém. Pela primeira vez também, por causa da Covid-19, a porcentagem de estudantes que fizeram o Saeb foi muito baixa em alguns estados, fornecendo dados estatisticamente pouco confiáveis.
Com a taxa de aprovação de 100% em vários locais (no geral ficou em 95,2% contra 88,6% antes da pandemia) e a quantidade de alunos que prestaram o Saeb (71,3% contra 81% em 2019), o Ideb aumentou de forma artificial, sem necessariamente indicar uma melhora na educação.
Isto porque o Ideb é calculado com o cruzamento de duas informações: taxa de aprovação/fluxo escolar (a porcentagem de alunos que não repetiram de ano em uma escola ou rede de ensino) e notas do Saeb (prova de português e de matemática feita por estudantes do 2º, 5º e 9º ano do ensino fundamental e por estudantes do 3º do ensino médio).
Analisando com cautela, alguns dados chamam a atenção no ensino médio. O número de jovens matriculados nesta etapa caiu de 6.564.625 para 6.217.486 — uma redução de 5,3%, porém o número de estudantes de ensino médio em tempo integral aumentou 10,5% (um dos pilares da reforma implementada desde 2022, o chamado Novo Ensino Médio). A taxa de reprovação caiu de 10% para 4,6% no período.
Com relação ao Saeb no ensino médio, o desempenho dos estudantes em matemática passou de 278,5 para 271, ainda assim superior a 2015 e 2017, as medições anteriores a 2019; e em português foi de 279,5, para 275,9, também mais alta que em 2015 e 2017.
Resumindo, é evidente o resultado distorcido do Ideb 2021 em função da aprovação automática, pois ainda que a medida tenha como objetivo não prejudicar os estudantes, ela teve impacto direto nos números que agora mascaram as desigualdades educacionais do país.
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