Neutralidade não! Omissão!
No segundo turno das eleições de 2018, a abstenção alcançou 31.371.704 de eleitores. Sim. Mais de 31 milhões de brasileiros colaboraram para a vitória de Bolsonaro acreditando que estavam sendo neutros. Estavam equivocados. A neutralidade não existe.
Uma pessoa que se coloca como neutra sempre influencia uma situação. Isso porque, assim como a ação, a omissão também produz seus efeitos.
No cotidiano essa neutralidade se manifesta quando um professor finge não ver uma situação de injustiça na sala de aula. Quando um colega de trabalho é conivente com o assedio moral do patrão ou quando um pedestre se omite diante de uma cena de violência contra a mulher na calçada.
Enquanto eu fui um menino magricela e vítima dos valentões da escola, muitas vezes desejei que meus colegas “isentões “, que possuíam condições de me defender, intercedessem por mim. Quando penso na dor distante que o bullying me causou naqueles dias, não me lembro apenas dos agressores, mas também dos que podiam ter evitado a agressão.
Por outro lado, tomar partido exige desprendimento e coragem. O posicionamento político ou deológico tem implicações sociais e muita gente teme o julgamento do outro. Mas seria essa necessidade de aceitação social mais importante do que o senso de justiça? Seria mais forte do que a sensação de estar fazendo a coisa certa?
Mas o que seria fazer a coisa certa? Bom, diante da ética que rege a nossa sociedade, base da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da nossa Constituição, seria agir de acordo com os ideais iluministas.
O artigo 5° da Constituição traz esses ideais, mas como é muito extenso, podemos recorrer a essa síntese fantástica de tais ideais que é o:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Este artigo da nossa Constituição traz a ideia do que seria o bem agir de políticos e cidadãos. Quem poderia se opor a isso, não é mesmo? A pergunta é retórica, pois sabemos que os eleitores de Bolsonaro se opõem.
A questão é que não basta não se opor. É necessário sair em defesa da prática desses ideais. Tal prática não poderá ser alcançada senão através da política, da nossa participação política.
Nós brasileiros temos diversos motivos para desconfiar da política. Isso porque vemos o político como um alienígena, quando na verdade ele é um produto da nossa sociedade, assim como nós. Assim como todos os seres humanos, os políticos agem de acordo com a criação que receberam e as experiências que viveram. Sim. Os políticos não são todos iguais. É muita ignorância acreditar que pessoas diferentes ajam de forma idêntica quando ocupam um cargo público. “A pessoa quando chega lá, muda.” Mandato não muda ninguém, apenas torna público o que a pessoa sempre foi.
Caso o motivo da sua neutralidade seja a falta de fé na humanidade, já parou para pensar que você pode estar medindo o próximo a partir da sua própria régua? Se acha que não, seja você o candidato confiável do qual o Brasil precisa.
Neutralidade não! Omissão!
As próximas eleições definirão não apenas os próximos quatro anos, mas as próximas décadas. Neutralidade no contexto das eleições 2022 representará, assim como em 2018, omissão diante do avanço fascista. Não há espaço para a neutralidade quando a democracia e a nossa dignidade estão em jogo.
Como nos disse um dia Paulo Freire “Que é mesmo a minha neutralidade senão a maneira cômoda, talvez, mas hipócrita, de esconder minha opção ou meu medo de acusar a injustiça? Lavar as mãos em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele.”
Neutralidade não! Omissão!
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