Novo Ensino Médio e currículo
No início do mês de abril de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva suspendeu a implementação do Novo Ensino Médio para discutir como aperfeiçoar o novo modelo educacional voltado para um currículo mais específico, e fez questão de declarar que o governo federal não irá revogar o Novo Ensino Médio.
O Ministério da Educação (MEC) publicou a portaria que suspende a implementação do NEM até o dia 4 de junho, mas na prática esse ato não altera o dia a dia das escolas, que devem continuar seguindo as diretrizes do Novo Ensino Médio.
“Não vamos revogar. Suspendemos e vamos discutir com todas as entidades interessadas em discutir como aperfeiçoar o ensino médio nesse país. Nós vamos suspender por um período, até fazer um acordo que deixe todas as pessoas satisfeitas com o ensino médio nesse país”, disse Lula.
John Dewey e currículo
A situação comprova qual atual é o pensamento pedagógico de John Dewey (Vermont, 1859-Nova York, 1952). Seus textos são uma fonte inesgotável de ideias, conceitos e propostas que, um século depois de elaborados, seguem interferindo agudamente em nossas práticas. Cabe lembrar que Educação e democracia, seguramente sua obra principal, foi escrita em 1916.
A escola como motor de transformação social democrática, o lugar que os interesses dos alunos podem ocupar na prática cotidiana na sala de aula, a criatividade dos docentes, entre outras questões, permeiam ainda hoje interessantes desafios a quem se interesse pela obra de Dewey.
Segundo Robert Westbrook, o enfoque pedagógico de Dewey se situa num ponto intermediário entre a pedagogia “centrada no currículo”, conservadora, e a pedagogia “centrada no aluno”, mais próxima a pedagogos como J. F. Herbart. Westbrook ainda faz uma aclaração: costuma-se pensar que Dewey é o pai da pedagogia centrada na criança, entretanto ele realiza uma sutil distinção ao indicar que apesar de considerar fundamental colocar o olhar no aluno e seus interesses, Dewey entende que é necessário relacionar os interesses da criança com os conteúdos social e historicamente definidos no currículo escolar. Deste modo, as características do alunado não constituem um fim em si mesmas, mas sim são valorizadas como possibilitadoras de ações e experiências, e será função do professorado poder explorá-las.
De maneira muito sintética, o pensamento filosófico de Dewey casa com o Novo Ensino Médio, onde o pensamento é fundamentalmente uma ferramenta que permite atuar sobre a realidade, e o conhecimento é o resultado das experiências com o mundo. Ele é, portanto, o pensamento que passa pela peneira da ação.
Disto se deduz que a posibilidad de atuar sobre o mundo, de experimentar com ele, é um elemento fundamental para compreender o levantamento do autor: Dewey sustentava que tanto as crianças como os adultos aprendem a partir do confronto com situações problemáticas, que aparecem a partir dos próprios interesses.
Assim, o aluno é um sujeito ativo e a tarefa do docente é gerar entornos estimulantes para desenvolver e orientar esta capacidade de atuar. É o professor que deve unir os conteúdos do currículo com os interesses do alunado, envolvendo nisso as novas tecnologias.
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