Da importância do feminismo – Parte II 

Por Carolina Barcelos

 

No livro Um teto todo seu, publicado pela primeira vez em inglês em 1928, por Virginia Woolf, cujo romance mais conhecido é Mrs. Dalloway, a escritora inglesa assinala que são necessários dinheiro e um espaço livre de interrupções, ou seja, “um teto todo seu”, para uma mulher escrever ficção. Mas o que significa isso?
No livro, Woolf faz denúncias sobre o lugar da mulher na história ocidental desde o Renascimento até o momento em que escreve. Durante séculos a educação escolar era vedada às mulheres. E até o momento em que escrevia, à mulher era reservado o papel de se preparar para o casamento, se casar, ter filhos e cuidar do lar, já para o homem tudo era possível: fazer dinheiro, administrar seu dinheiro, estudar, inclusive no ensino superior, e escrever.
Enquanto o homem poderia se dedicar à escrita ficcional, a mulher era vista como incapaz disso. No entanto, os homens escreviam sobre mulheres. Para Wolf, quando o escritor elevava a mulher a uma categoria super-humana ou a rebaixava à categoria sub-humana, era sempre para enfatizar a superioridade masculina. A escritora então questiona: “Têm vocês alguma noção de quantos livros são escritos sobre as mulheres em um ano? Têm alguma noção de quantos são escritos por homens? E para que outras mulheres possam escrever, Virginia Woolf diz serem necessários um espaço próprio sem interrupções e dinheiro, ou seja, que a mulher possa trabalhar para ter alguma independência. Em outras palavras, a igualdade de gênero na sociedade era urgente.
Passado quase um século desde a publicação do livro, a mulher, devido à luta feminista, entrou no mercado de trabalho, ingressou na universidade, mas a luta pela igualdade de gênero ainda permanece. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que no Brasil as mulheres estudam mais, trabalham mais, mas ganham menos que os homens, além de serem sub-representadas politicamente. Se nas últimas eleições havia cotas para candidaturas de mulheres para o Poder Legislativo, diversos partidos burlaram a lei com candidaturas-fantasma para que o dinheiro desta cota fosse para outros membros do partido, algo que aconteceu e foi bastante noticiado sobre a questão dentro do PSL, partido pelo qual o atual presidente se elegeu.
Se você acha que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos e possibilidades de trabalho, garantia à educação, representatividade política e que dividam as tarefas domésticas, inclusive de cuidar dos filhos, você é a favor do feminismo.

Para leitura: WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. São Paulo: Círculo do livro, [s.d.].
Disponível em pdf na internet.

Carolina Montebelo Barcelos é doutora em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio, professora e pesquisadora de Teatro e Literatura. Mora há trinta anos no Rio de Janeiro.

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