Eles não sabem o que estão fazendo….

Em seu livro “Carnavais, Malandros e Heróis” (1979), o antropólogo Roberto da Matta faz uma análise sobre os alguns elementos e aspectos da cultura brasileira. Dentre esses encontra-se o “Você sabe com quem está falando?”,uma aberração facilmente detectável na política local.
A violência implícita no “sabe com quem você está falando?” revela a tendência clientelista tradicional da prática política brasileira e ao mesmo tempo uma grande ignorância por parte da população dos objetivos dessa mesma prática Aqui na cidade de Cabo Frio podemos vislumbrar isso de uma forma muito rica, embora seja a pobreza (de espírito e material) que a alimente. Inebriados pelo poder político temporal, poder este erigido sobre as mais variadas formas de carências e necessidades, os “dignitários” ou aqueles que com eles flertam , se distanciam das atribuições dos seus cargos e tais quais os guardiões dos portões do inferno (com todo respeito à mitologia) empregam o seu farto tempo na defesa do poder pelo poder.
Pior do que enxergar tais aberrações é constatar o esforço indisfarçável de intelectuais em perpetuá-las. Esse quadro em particular nos remete aos chamados “súditos letrados”, figuras historicamente localizadas entre os renascentistas e que se popularizaram também no Brasil Imperial. Eram escritores, cientistas ou artistas que para terem seus projetos pessoais executados se colocavam a serviço dos soberanos. Hoje, no alto do séc. XIX, onde as luzes do esclarecimento já se consolidaram, encontrar intelectuais que se colocam à disposição do “poder pelo poder” é lamentável. No entanto, facilmente justificável, não pelo desejo de defender qualquer bandeira ideológica, mas pela satisfação das suas necessidades pessoais. E voltando à Renascença, os fins justificariam os meios…
Na dinâmica política eleitoral não raro um homem com carisma associado à pessoas dispostas a financiar sua campanha chega ao poder. Para os financiadores pouco importa que ele possua ou não qualquer bagagem intelectual, ética ou moral. Muitos até afirmam que o homem é mau de qualquer maneira e isso apenas se potencializa quanto este alcança qualquer tipo de poder.
Para os financiadores o que interessa é a manutenção das coisas com elas estão e por isso fabricam legisladores inócuos que ali estão apenas como lacaios dos seus interesses econômicos. E o preço do voto que custa apenas alguns reais para os financiadores é a ascensão de indivíduos que geralmente possuem algumas das seguintes características: complexo de inferioridade, necessidade irracional de acumular riquezas, truculência, intolerância e nenhuma formação política. Imagine todas essas características envernizadas pelo direito de exercer poder. Sabe o que se tem?
O portador do “Sabe com quem está falando?”. Uma aberração política. Geralmente um caso perdido que quando por infortúnio nos cruza o caminho fazendo ecoar o seu”sabe com quem está falando?” velado , nos resta apenas entoar baixinho, quase que como uma oração:” Ele não sabe o que está fazendo.”

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