Muitos pensadores se dedicaram a explicar a felicidade, cada qual utilizando as lentes que o contexto de suas épocas lhes possibilitou. Longe do mundo das conjecturas e num plano mais próximo da nossa existência cotidiana, carregada muito mais de vivências do que de reflexões, aqui estamos nós sem nenhuma pretensão filosófica, em uma pausa nessa realidade frenética a nos perguntarmos: O que é a felicidade?
O filósofo grego Platão afirmou que a felicidade é o objetivo da existência humana. Para o seu discípulo Aristóteles (Ética a Nicômaco) feliz é aquele que é virtuoso e que pratica o bem. Da antiguidade para a modernidade, diz Rousseau que a felicidade não é fazer sempre o que se quer, mas não fazer o que não se quer.
As religiões também especulam sobre a felicidade. Algumas pregam que a felicidade não é deste mundo, outras prometem alívio imediato para todo tipo de sofrimento humano. Por falar em sofrimento, o budismo afirma que este é causado pelo desejo, o que nos leva a pensar que desejar dói. Mas se não fosse o desejo, teria a humanidade chegado onde chegou? Mesmo diante de todos os efeitos e defeitos ecológicos, éticos e morais que protagonizamos, devemos reconhecer que a aventura humana no planeta e a sua evolução, da ferramenta de lasca de pedra ao notebook no qual digito estas palavras, foi um feito notável de um organismo movido pelo desejo, unicamente pelo desejo. Então podemos afirmar que o desejo move o mundo, pelo menos o desejo de ser feliz.
Nessa relação felicidade/desejo, temos uma perspectiva interessante: se a felicidade é alcançada geralmente através da satisfação do desejo, a felicidade plena é inatingível, uma vez que sempre queremos mais. Mas se o desejo provoca a felicidade, a ausência da felicidade também inibe o desejo.
A manifestação mais contundente da falta de felicidade se caracteriza justamente pela ausência do desejo. O deprimido nada deseja ou muito pouco quer.
Na nossa sociedade estamos sempre buscando a felicidade, não aquela concebida por Platão e Aristóteles, mas sim esta atrelada à satisfação imediata dos nossos desejos. O marketing da felicidade na nossa sociedade é tão forte que acreditamos ter a obrigação de sermos felizes o tempo todo, o que nos causa uma grande ansiedade e nos leva a buscarmos insanamente tal estado de espírito.
Tem gente que busca este estado nas compras, outros, nas drogas, alguns na esperança de serem amados por aqueles que amam, também temos os que almejam o sucesso para que possam ser felizes na sociedade que exalta e venera os vencedores. Enfim, a felicidade é buscada em tantos horizontes, quantos são aqueles que a buscam.
Estamos desse modo, transferindo a responsabilidade sobre esta sensação para fora de nós, quando na verdade, ela é uma conquista interna, pessoal e intransferível.
Há alguns anos um li um artigo e guardei a revista diante da impossibilidade de memorizar o nome do pesquisador Mihaly Csikszentmihalyi da Universidade de Chicago. De acordo com testes realizados por Mihaly, as pessoas que trabalham com o que gostam são capazes de atingir um nível quase perfeito de alegria que se mantém por um tempo relativamente longo. Tal sensação também se manifesta nos monges budistas em estado de meditação, prática que ativa o córtex pré-frontal esquerdo, levando a um melhor funcionamento do organismo e melhorando inclusive o sistema imunológico.
Resultados semelhantes foram verificados nos cérebros de pessoas que fazem o bem semanalmente com trabalhos voluntários em asilos, orfanatos e instituições de caridade (o Brasil deve ser um bom lugar para se buscar a felcicidade).
O mesmo artigo menciona o psicólogo Martin Seligman que indica três fontes para se alcançar a felicidade: prazer, engajamento e significado. De acordo com o estudo do Dr. Seligman, podemos supor que: feliz de verdade é quem consegue reunir estes três elementos ou pelo menos manter um “rodízio” destes, uma vez que o prazer, seja ele qual for, é efêmero, o engajamento se desgasta e o significado só perdura enquanto existir o significante, que como tudo, é finito. Se bem que o mestre Tom Jobim um dia cantou:“Tristeza não tem fim, felicidade sim.”
Bom, já que a felicidade é mesmo efêmera pela própria condição humana e chega sempre para a grande maioria como intervalos de sol em um dia chuvoso, busquemos o equilíbrio, o caminho do meio, o “Conheça-te a ti mesmo” e sigamos evoluindo.
Talvez um mundo de felicidade plena significasse o travamento evolutivo da humanidade, onde nossos sorrisos constantes amarelariam em um cotidiano enfadonho cheio de desejos satisfeitos. E na falta de um contraponto nós nunca saberíamos o que significa ser ou estar feliz.
No entanto, para os casos de emergência, aí estão os antidepressivos, o altruísmo e a fé.
(Professor Rogério Carvalho)
Be the first to comment