Desde 2013, o Brasil se viu numa “guerra” entre direita e esquerda na política, a famosa polarização, mas que afetou todos os setores da sociedade e também o diálogo.
Independente de organizações e movimentos, relações familiares foram desfeitas, adversários viraram inimigos, e quem não compactua da sua ideia não merece o seu respeito.
As chamadas “fake news” e a proliferação de perfis nas redes sociais só aumentaram o caos, colocando em xeque pensamentos filosóficos, científicos e até mesmo ideias consagradas, as quais não cabia qualquer tipo de discussão.
Na política, uma insurgência de indignação contra a representação, o sistema político e até o voto eletrônico (e não contra os políticos de maneira mais geral, o que era necessário).
Assim, na atualidade, um grande número de pessoas não tem mais vergonha de expor suas ideias, muitas vezes recheadas de preconceito, assédio e valores imorais e antiéticos a uma nação ordeira. Mais que isso, à civilização verdadeira.
Enquanto a espécie Homo sapiens vai tornando-se a mais animalesca de todos os tempos, priorizando a violência (verbal e física), o diálogo vai ficando relegado a segundo plano.
A comunicação respeitosa entre as pessoas vem gradualmente sendo desconstruída, causando mais impacto à convivência fraterna e à vida saudável até mesmo que a pandemia do coronavírus.
Mesmo em ambientes escolares, o diálogo tem acontecido na base dos pensamentos emitidos verbalmente sem uma indispensável reflexão imediata, quase sempre sem lucidez, equilíbrio e serenidade.
Com excesso de informação causado pelo avanço da tecnologia, muito se fala e pouco se escuta ultimamente. Daí vem a intolerância e o discurso, ainda que seja para defender uma ideia errada (ou mesmo absurda), no lugar do diálogo.
Como diz a filósofa Marcia Tiburi, “todos querem opinar sobre tudo e todos, mas, muitas vezes, sem embasamento. E sem fundamento, nascem nesse contexto as agressões verbais, conclusões equivocadas, ofensas gratuitas, desaforos, ironias felinas, maldade mesmo. O que é muito triste, para dizer o mínimo, mas que significa falta de ética, distorção do comportamento. Impotente para a compreensão do outro, para perguntar, para mudar de ideia, resta-lhe tentar sentir-se sempre cheio de razão. A impotência para o questionamento tem um nome metafórico cuja validade técnica, infelizmente, foi banalizada. Trata-se da ‘burrice’ como impotência não apenas relativa ao saber sobre as coisas, mas relativa ao outro que sempre nos serve de espelho”.
A tal liberdade de expressão passou a ser entendida como o direito de se manifestar sem se importar com o outro. A arte do diálogo, tão bonita e comum em outros tempos, exige algo que está fora de moda: saber silenciar-se para compreender.
Que a partir de 2023 voltemos a perceber que é possível (e necessário) discordar e seguirmos numa convivência fraterna, com respeito ao outro, sem adoecer o corpo e a alma. E isso vale também para professores, que ainda se acham “donos dos saberes”.
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