A “redemocratização” do Brasil, cuja culminância foi a promulgação da Constituição de 1988(Constituição Cidadã), embora tenho universalizado o voto não significou a entrega das rédeas da nação à maioria. Isso porque a mesma elite que outrora apoiara a ditadura, manteve o controle sobre o processo eleitoral através da corrupção e da alienação das massas. E esta, composta por um oceano de cidadãos deseducados, cooperou com sua cumplicidade negligente.Essa mesma massa, que muitos sempre consideraram vitima do vampirismo da elite é , na verdade , o berçário de novos algozes. É a escola dos oprimidos que querem se tornar opressores. E nesse contexto, quando nos aproximamos da massa com nossas verdades políticas parece que estamos convencendo os vampiros para um banho de água benta.
Platão teria sido o primeiro a conceber a ideia de que o principal objetivo do Estado é promover o bem comum. Mas será este mesmo o objetivo individual daqueles que formam a comunidade? E quem decidi o que é o bem comum? Numa sociedade de classes, podemos sim concordar com a ideia de que os interesses das elites são contrários aos do povão, mas apenas os imediatos, já que na profundidade da questão, quer o povo se tornar elite. A nação brasileira, não conhece a conquista. A história da nossa cidadania é uma sucessão de concessões. Tudo nos é “dado” de acordo com os arranjos institucionais do momento, nos viciando em um estado político paternalista, numa situação de carência e dependência . Antes de se tornar detentor de direitos precisa o indivíduo se tornar uma ser digno de fazer parte da comunidade. Isso pode ser ensinado? Sim, pode. Assim como se ensina que a política só serve pra enriquecer, assim como se ensina que o trabalho digno é coisa de otário; assim como se ensina que os grandes heróis dessa nossa fajuta democracia, são aqueles que abusam da liberdade para defender sua independência pessoal. Que venha então Rousseau, com a sua concepção moderna de Estado constituído através do contrato social. Pois onde anda esse acordo tácito? Anda arquivado nas universidades, presentes numa ou outra aula e olhe lá. O “acordo” só pode ler “lido”pelos alfabetizados em cidadania, condição distante da massa que ignora que o sofrimento social é coletivo e segue embotada na busca pelas soluções paliativas e imediatas.Para se pensar a democracia hoje em dia deve levar em conta o divórcio da sua concepção filosófica e as aspirações da massa. Deve-se reconhecer o “Não” emitido por aqueles que seriam os maiores interessados nas sua implantação. Deve-se entender que não se pode distribuir liberdade entre aqueles que permanecem inertes pela ignorância. Só se combate a ignorância com o conhecimento, seja ele formal, informal, ético ou moral. Eis o maior desafio de quem hoje pensa a democracia: traduzi-la e transformá-la no antídoto para as mazelas sociais sem que nesse processo os doentes a pervertam e se transformem nos efeitos colaterais letais para o nosso já adoecido organismo social.
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