Aglomerados: a vitória do instinto sobre a razão.

Por Rogério Carvalho* —

Como já esperávamos, o Réveillon foi marcado por festas clandestinas e aglomerações. Já esperávamos por isso tendo por base o comportamento padrão do brasileiro. Bem que poderíamos apelar para o fato de que no Brasil, 40% da população acima de 25 anos não têm nem ensino fundamental para justificar o injustificável, mas o ímpeto de se aglomerar não pode ser explicado apenas pela baixa escolaridade, porque além de não atender à análise, seria uma colocação preconceituosa, uma vez que esse índice se relaciona com a condição social. As aglomerações, como sabemos, são formadas pelos pobres, pelos remediados e pelos ricos, variando apenas o valor do metro quadrado onde acontecem.
Então o que leva o brasileiro a se aglomerar durante o aumento do número de infectados na maior pandemia da história da humanidade?
A ignorância. Se não a escolar, a ignorância civilizatória, aquela que ainda é uma herança da barbárie e que desabilita o indivíduo para o exercício da cidadania. Essa ignorância é a base primordial do individualismo que bate os ombros para o bem-estar da coletividade e para o cuidado com o próximo.
As cenas de aglomeração também nós remetem à pressão do instinto sobre a razão. Somos animais e muitos de nós se deixam levar pelos apelos primitivos, pela necessidade de satisfação dos sentidos, pela produção de dopamina e busca do prazer imediato. Essa derrota da razão diante dos instintos tornam esses indivíduos um risco para a sociedade.

Os aglomerados abrem mão da sua responsabilidade social, o que significa um altíssimo risco sanitário. Eles acabam sendo um problema de todos nós, porque podem provocar problemas para todos nós. Não seria exagero dizer que essas pessoas são um fardo civilizatório. É a parcela da sociedade que evoca das autoridades medidas restritivas e punitivas em situações na qual bastaria o bom senso. As massas de aglomerados são formadas por entidades que vibram numa frequência inferior e que fazem despencar a média dos índices de consciência social nacional.

As aglomerações são provocadas por uma imaturidade racional perigosa e irresponsável e fala muito sobre nós brasileiros. Embora não esperássemos algo muito diferente dos nossos concidadãos, as cenas do Réveillon 2020 chocam pela ausência de cuidados e limites.
É verdade que estas ideias podem ser utilizadas para analisar o comportamento de aglomerados em outros países, mas o que nos interessa aqui é a irresponsabilidade seja ela cultural, social ou psicológica dos brasileiros que se aglomeram.
Certeiro na sua análise sobre os brasileiros foi o escritor Nelson Rodrigues que certa vez afirmou que “o brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.

 

*Rogério Carvalho é professor de História e estudante de jornalismo.

 

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