Da importância do feminismo

Por Carolina Barcelos

Importância do feminismo

-Por Carolina Barcelos*-

Gostaria de iniciar esse primeiro artigo apresentando o objetivo desta coluna. Procurarei, aqui, fazer algumas considerações sobre a atualidade no âmbito das manifestações culturais, quer sejam, literatura, música, cinema, artes plásticas e teatro, podendo eventualmente aparecer algum artigo sobre série de streaming.

Durante algumas semanas a coluna abordará a questão da importância do feminismo relacionando-o com manifestações culturais, já que esta é a proposta da coluna.

No último dia 30 de julho, jornais fluminenses noticiaram o espancamento de uma mulher pelo marido em Araruama com o uso de uma barra de ferro. A vítima foi encontrada ensanguentada pela polícia e levada para o hospital em estado grave. Podemos ver diariamente uma notícia assim em alguma parte do Brasil.

Dados oficiais sobre o feminicídio apontam que o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial desse tipo de crime. Apesar da implantação da Lei Maria da Penha, o número de mulheres vítimas de violência de gênero tem permanecido o mesmo em alguns estados e subido em outros.

O Atlas da violência 2018 assegura que as vítimas de feminicídio, antes da ocorrência deste crime de morte, haviam sofrido outros tipos de violências de gênero, como violência psicológica, patrimonial, física e/ou sexual. O Mapa da violência contra a mulher 2018, disponível no site da Câmara dos deputados, aponta que boa parte das mulheres vítimas de violência de gênero tem como algoz alguém de seu convívio: pai, tio, avô, namorado e marido. Por exemplo, este mapa mostra que 50% dos casos de estupro são cometidos por companheiros ou familiares. Portanto, em briga de casal devemos sim meter a colher, em assunto de abuso em família devemos sim nos meter. O 190 está aí para isso também.

No livro Sejamos todos feministas da nigeriana Chimamanda Adichie, disponível gratuitamente em livro eletrônico, a escritora e ativista feminista declara:

Por que usar a palavra ‘feminista’? Porque não dizer que você acredita nos direitos humanos ou algo parecido? Porque seria desonesto. O feminismo faz, obviamente, parte dos direitos humanos de uma forma geral – mas escolher uma expressão vaga como “direitos humanos” é negar a especificidade e particularidade do problema de gênero. […] Que o problema não é ser humano, mas especificamente um ser humano do sexo feminino (p. 11).

Desse modo, não há como tratar igualmente o que é desigual, ou seja, não há como abordar o universo feminino e masculino de forma igual, colocando de forma generalista homem e mulher como seres humanos sem distinção, porque o ser humano do sexo feminino é tratado de forma desigual na sociedade, desde entre o seio familiar até no trabalho, na rua, no ônibus, trem e metrô. E o feminismo vem a denunciar e lutar contra isso. Em um país onde até o presidente da República louva o torturador de uma mulher por ocasião da votação de seu impeachment como presidenta e diz que uma deputada não merece ser estuprada por considerá-la feia, urge sermos feministas.

Finalizando, deixo aqui mais palavras de Chimamanda: “existem milhares de artigos e livros ensinando o que as mulheres devem fazer, como devem ou não devem ser para atrair e agradar os homens. Livros sobre como os homens devem agradar as mulheres são poucos” (p. 10).

Para leitura:

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Sejamos todos feministas. São Paulo: Companhia das letras, 2014. Versão kindle.

 

 

Carolina Montebelo Barcelos é doutora em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio, professora e pesquisadora de Teatro e Literatura. Mora há trinta anos no Rio de Janeiro.

 

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