É hora de escola ou ensino bilíngue em Búzios

Desde 1976, quando a Argentina entrou na ditadura e muitos de seus habitantes saíram do país, Búzios (ainda um distrito de Cabo Frio) recebe uma grande número desses estrangeiros. Em 1999, com a emancipação, as escolas municipais ofereciam a língua inglesa em sua matriz curricular, tendo a entrada da língua espanhola acontecido a partir de 2005.

Primeiro concursado da disciplina (agora componente curricular), espantado e entusiasmado com a quantidade de falantes de espanhol como língua materna, logo me veio à cabeça de como seria importante capacitar todos os funcionários de secretarias para o bom entendimento do idioma e para isso nada melhor que a criação de um centro de idiomas municipal.

Muitas portas fechadas, ouvidos de mercador feitos, mas a persistência rendeu dois frutos: o programa Alô Turista, em 2011, cuja meta era melhorar a recepção ao turista, qualificando os profissionais que lidam diretamente com o visitante nas ruas, para que pudessem ajudar com informações, orientando o visitante de forma correta e adequada. Eram aulas de língua estrangeira (Inglês e Espanhol) e Turismo Receptivo. O programa acabou direcionado a Guardas Municipais, Policiais Civis e Militares. Em seguida, com o início de um outro governo, em 2013, foi inaugurado o Centro de Idiomas, espaço criado por meio de parceria entre as secretarias de Turismo e Educação, localizado no bairro Ferradura, com as aulas de inglês e espanhol (posteriormente francês) em laboratórios computadorizados, oferecidas para segmentos especializados como atendentes da secretaria de Turismo, taxistas, garçons e recepcionistas, dentre outras funções, além de profissionais da área educacional: alunos monitores, estudantes do Ensino Médio (incluindo os do IFF) e servidores da Secretaria de Educação. Infelizmente o ensino de português para estrangeiros foi vetado.

O próximo passo seria a tão sonhada Unidade Escolar Bilíngue, mas a ideia não saiu do papel, por n motivos, entre eles o fato de muitos entenderem apenas como um programa bilíngue (vendido erroneamente por muitas instituições de ensino como bilinguismo), de acordo com as diretrizes para educação plurilíngue.

Como Búzios, com quase 1/3 da sua população formada por falantes de espanhol, não tem uma escola bilíngue? Ela traria benefícios para a comunidade como um todo, não só para seus estudantes e professores. Portanto seria uma instituição de ensino que divide sua grade curricular entre dois idiomas. Além do uso da língua materna (no caso o português), o aprendizado do conteúdo acadêmico seria complementado através da segunda língua (no caso o espanhol), com alguns componentes curriculares lecionados em um idioma e os demais no outro. Além de proporcionar uma formação global e abrangente, viabilizando mais oportunidades no mercado de trabalho e transformando a adaptação do alunado estrangeiro em algo mais tranquilo, seja na comunicação, no ambiente, nos hábitos ou mesmo na equiparação e comparação dos objetos de conhecimento e currículos.

O bilinguismo acelera e aprimora várias habilidades do estudante, além de expandir sua visão de mundo, estando presente na sua rotina diária. O professorado capacitado para trabalhar em uma escola bilingue pode contextualizar o ensino da língua espanhola com outras áreas do conhecimento, preparando aulas em conjunto e integrando os currículos.

Os desafios para implementação de um sistema bilíngue são muitos. Obviamente para toda uma unidade escolar é ainda maior. No entanto quebrar o padrão de ensino por meio da gramática e do vocabulário e passar a ter uma metodologia mais próxima da realidade dos estudantes, expondo-os ao ensino de duas línguas o mais cedo possível, aproveitando o cérebro da criança ser extremamente receptivo para o desenvolvimento de linguagens, de acordo com os estudos desenvolvidos pelo neurocientista francês Stanislas Dehaene, garantem um retorno de todo o investimento necessário, pois como dizem alguns, “Educação é investimento, não gasto”.

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