Unicef lança estratégia para combater racismo na primeira infância

Luanda, Angola - Movimentação de crianças e moradores em bairro pobre de Luanda, onde é evidente a vulneranilidade infantil - Foto: Juca Varella/Agência Brasil

Unicef lança estratégia para combater racismo na primeira infância—-

Em parceria com o Instituto Promundo, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) está lançando a estratégia Primeira Infância Antirracista (PIA) hoje, 23 de maio. A cerimônia será realizada na Arena Carioca Jovelina Pérola Negra, na Pavuna, zona norte do Rio de Janeiro, às 9h.

 

Cerca de 250 profissionais das áreas de educação, saúde e assistência social, juntamente com líderes sociais e adolescentes, participarão do evento. Após palestras e rodas de conversa com especialistas, autoridades e jovens, haverá oficinas para troca de experiências e propostas de novas práticas.

 

A PIA é uma estratégia que busca conscientizar sobre os impactos do racismo no desenvolvimento infantil na primeira infância. Além disso, ela promove a mobilização social entre profissionais de saúde, famílias, pais e cuidadores, orientando-os sobre como adotar práticas antirracistas no dia a dia dos serviços de educação infantil, assistência social e saúde. Maíra Souza, especialista em Desenvolvimento Infantil do Unicef, destacou que a estratégia também aborda como as famílias e cuidadores podem promover uma parentalidade e educação antirracistas, independentemente da etnia das crianças.

 

A escolha de focar na primeira infância se deve ao fato de que nessa fase, dos zero aos seis anos de idade, o cérebro da criança está em pleno desenvolvimento e as bases do seu desenvolvimento estão sendo estruturadas. Durante esse período, as crianças começam a perceber as diferenças físicas, incluindo cor da pele, altura e tamanho, e também começam a internalizar hierarquias associadas a essas diferenças.

 

O Unicef ressalta a importância de abordar o racismo estrutural desde cedo, pois é prejudicial para o desenvolvimento infantil quando as crianças percebem que seus traços e sua pele são considerados inferiores. O racismo afeta não apenas as interações sociais e brincadeiras, mas também o atendimento profissional recebido por essas crianças. A PIA visa, portanto, trazer visibilidade ao racismo e buscar formas de prevenir e reduzir seus efeitos negativos nas crianças.

 

Para isso, serão lançados materiais, incluindo quatro cadernos e uma websérie com sete vídeos sobre parentalidade antirracista com a participação de influenciadores e especialistas. Todos esses materiais serão disponibilizados gratuitamente no site do Unicef, abrangendo todo o Brasil.

 

Os cadernos abordam conceitos como racismo estrutural, institucional e sistêmico, branquitude, inconsciente e identidade. Eles também fornecem orientações e caminhos para profissionais de diferentes áreas. Por exemplo, no campo da assistência social, uma das propostas é a incorporação da temática das relações étnico-raciais em programas de visitas domiciliares. Na educação infantil, são oferecidos caminhos para os professores promoverem a igualdade, afeto e representatividade em sala de aula.

 

Diferenças sociais
Diversos dados evidenciam a existência de desigualdades raciais na garantia de direitos nos primeiros anos de vida. Segundo informações divulgadas pelo Unicef, há uma disparidade na proporção de bebês negros e pardos cujas mães não realizaram pelo menos sete consultas de pré-natal, atingindo 30%, em comparação com 18% para bebês brancos.

No caso das crianças indígenas, a taxa de mortalidade infantil (até um ano de idade) é o dobro da média nacional: 23,4 por 100 mil em comparação com 11,9 por 100 mil, de acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, referente a 2021.

Essas desigualdades também se refletem no acesso à educação, como apontado pelo Unicef. Em 2019, mais de 330 mil crianças entre quatro e cinco anos estavam fora da escola, conforme revelado pelo estudo “Desigualdades na Garantia do Direito à Pré-escola”, lançado pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, com apoio do Unicef e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) em 2022.

O Unicef destaca que a probabilidade de crianças negras, pardas e indígenas estarem nesse grupo era 25% maior do que as crianças brancas.

No âmbito da assistência social, o desafio é significativo. Quase 70% das crianças de zero a quatro anos cadastradas no Cadastro Único (CadÚnico) são negras, conforme dados da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa estimativa é referente a março de 2023.

Promoção e engajamento.

O Unicef tem o objetivo de promover a continuidade e a expansão do projeto, buscando sua integração e enraizamento. Além dos encontros presenciais, a equipe do Unicef pretende ativar a discussão sobre a estratégia Primeira Infância Antirracista (PIA) nas redes sociais, para que esteja presente tanto entre os profissionais quanto nos adultos das famílias.

Essa iniciativa faz parte da abordagem mais ampla da #AgendaCidadeUNICEF, lançada no ano passado e planejada para um período de três anos.

O objetivo é demonstrar que é possível construir uma prática antirracista e garantir que essa discussão seja mantida viva nas equipes por meio dessa agenda.

 

 

Unicef lança estratégia para combater racismo na primeira infância—-

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