Você precisa do portunhol?

Vencedor do kikito de melhor longa-metragem gaúcho no Festival de Cinema de Gramado de 2020, o documentário “Portuñol” apresenta como as línguas portuguesa e espanhola (às vezes o guarani também) entrelaçam-se nas fronteiras do Brasil com Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai, fazendo parte do dia a dia dos moradores das regiões.

Na cidade de Armação dos Búzios, onde 20% da população de quase 40 mil habitantes é formada por argentinos, é muito comum o portunhol ser o meio de comunicação mais usado, seja pelo fato de os brasileiros não saberem corretamente a língua espanhola ou os argentinos não se interessarem pelo idioma português. Além disso, nas unidades escolares municipais, dos anos finais do Ensino Fundamental, a aula de espanhol perdeu metade da sua carga horária e ainda vive correndo risco de ser extinta.

Se sua língua materna é o português, apesar de ser um idioma parecido ao seu, o espanhol tem outras características e apesar de parecer que estamos entendendo ou sendo entendidos, mais de mil termos são chamados de falsos cognatos, ou seja, não são o que parecem significar.

Obviamente que numa relação comercial, os gestos, a fala pausada e os apontamentos ajudam na compreensão da informação, mas com certeza o nativo sempre terá uma desconfiança. Além disso há uma enorme diferença entre ser fluente e falar palavras/frases num idioma estrangeiro.

Espanhol ou português; portunhol, não

Na relação português-espanhol, de cara o primeiro ponto de destaque é a pronunciação, já que para o brasileiro se torna difícil adaptar-se ao sistema fonológico do espanhol, sem vogais abertas e nasais. Além disso, o uso de “muy” e “mucho”, a aplicação dos artigos “el” e “lo” ou do verbo “gustar”, assim como os gêneros e as sílabas tônicas de muitas palavras também gerar uma infinidade de conflitos entre ambas línguas.

Se você acha que sabe espanhol, então está na hora de não falar portunhol. Para argentinos, chilenos, uruguaios e outros povos latinos tão pouco é fácil entender português, porém pode ser mais simples que o portunhol, onde palavras são inventadas, sem que existam nas duas línguas, prejudicando o entendimento. Fale em português ou espanhol, mas portunhol jamais.

Cabe ressaltar também que é errado classificar o portunhol como idioma, por mais que hajam defensores desse absurdo, já que não apresenta regras, nem uma constância de termos, variando de pessoa para pessoa.

Em vez de inventar um meio de comunicação e achar que está se saindo bem, por que não estudar o segundo idioma mais utilizado na comunicação de vários países? Principalmente se você mora em região onde o contato com a língua espanhola é frequente. Novas oportunidades de trabalho surgirão, com certeza.

Bola ou Búlica: Professor Vinicius Fernandes estreia sua coluna semanal no JPA
Vinicius Fernandes Batista é professor, tradutor e revisor. Um carioca que não gosta do Rio de Janeiro, mas adora a trinca de V: verdade, vinho e viagem

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