Automatização x habilidades socioemocionais

Em 2022, uma obra feita por Inteligência Artificial (IA) venceu um concurso de arte nos Estados Unidos. O designer Jason Allen informou que ela havia sido feita usando o programa de criação de imagens Midjourney, e tal afirmação gerou uma série de protestos.

A IA também consegue escrever textos sobre qualquer assunto, “começando do zero”. Assim, o relatório do Fórum Econômico Mundial, divulgado em outubro de 2020, estipulou que:

  • A força de trabalho está sendo automatizada mais rapidamente do que o esperado, de onde se prevê o deslocamento de 85 milhões de empregos nos próximos cinco anos;
  • Calcula-se que a revolução dos robôs criará 97 milhões de novos empregos, mas as comunidades em maior risco de ruptura precisarão do apoio de empresas e governos;
  • Em 2025, o pensamento analítico, a criatividade e flexibilidade estarão entre as habilidades necessárias;
  • Com dados e inteligência artificial, a criação de conteúdo e a computação em nuvem estarão entre as profissões emergentes;
  • As empresas mais competitivas serão aquelas que optarem por requalificar e aprimorar os funcionários atuais.

As habilidades socioemocionais (“soft skills”)

De acordo com o mesmo levantamento, a resposta para os possíveis questionamentos sobre qual será o espaço para quem é humano, em um mundo altamente digital, vem das habilidades socioemocionais (“soft skills”), ou seja, das emoções, características que só podem ser encontrados em pessoas.

Em destaque nessas habilidades estão a solução de problemas complexos, o pensamento crítico e a criatividade. Portanto, mais do que nunca, passou a ser entendido que, além de ensinar teorias e práticas, as unidades de ensino em todos os seus níveis e modalidades relacionados ao mercado de trabalho, também precisam ter como meta ajudar a desenvolver as habilidades socioemocionais.

Nesse viés, o contato humano tem cada vez mais um papel fundamental na aprendizagem de indivíduos, com destaque para o professor, que precisa apresentar um repertório elaborado tanto das habilidades cognitivas como das habilidades socioemocionais, desempenhando, assim, um papel relevante na promoção de um ambiente propício para o desenvolvimento dessas mesmas habilidades.

A BNCC (Base Nacional Comum Curricular), com o objetivo de regular a educação no país, já apresenta cinco Competências Socioemocionais, confirmando a teoria de que a inteligência emocional será um diferencial daqui para frente. Já não adianta mais saber executar tarefas se não souber como controlar os sentimentos e emoções.

1. Autoconsciência (se conhecer profundamente);

2. Autogestão (gerenciar as próprias tarefas e o tempo);

3. Consciência Social (não somos iguais e precisamos considerar o outro com suas individualidades).

4. Habilidades de Relacionamento (avaliação de como está se relacionando com quem está ao seu redor).

5. Tomada de decisão responsável (essa habilidade envolve diversos fatores, incluindo a senso analítico e a atitude).

As habilidades socioemocionais na BNCC

A Base Nacional Comum Curricular acredita que a visão de Marcos Meier e Sandra Garcia (2007), que são pautados em Feuerstein, são bons exemplos de como o professor pode ajudar os estudantes a desenvolver as competências socioemocionais em sala de aula.

Estes autores sugerem que os educadores tenham atitudes em sala de aula que favoreçam o desenvolvimento das competências socioeconômicas. Atitudes como:

  • Intencionalidade e reciprocidade: o professor deve apresentar objetivos claros e concretos aos alunos e espera com isso que eles respondam de modo recíproco.
  • Significado: o professor deve explicar de forma clara o tema que está sendo trabalhado em aula e ainda suas implicações, verificando, claro, se os alunos compreenderam e se mantendo aberto a possíveis dúvidas.
  • Transcendência: o educador deve passar aos estudantes a ideia de transcendência dos conteúdos, fazendo com que os alunos consigam pensar além, “fora da caixinha”.
  • Competência: o educador deve proporcionar ao aluno o sentimento de capacidade, que ele é capaz de aprender, se desenvolver e alcançar sucesso em qualquer que seja o projeto.
  • Regulação e controle do comportamento: o educador deve possibilitar aos estudantes que desenvolvem seu autocontrole frente a situações adversas e possivelmente estressantes. O professor deve ressaltar que as discussões devem sempre ser resolvidas por meio do diálogo.
  • Compartilhar: o educador deve estimular e reforçar sempre o clima de colaboração dentro da sala de aula, propondo trabalhos em grupo que envolvam ajuda mútua e resolução de problemas por meio da comunicação.
  • Individuação e diferenciação psicológica: as diferenças e individualidades devem ser valorizadas pelo professor dentro de sala de aula, assim, os alunos entenderão que devem respeitar o outro como ele é, em sua individualidade.
  • Planejamento e busca por objetivos: o professor deve oferecer apoio aos alunos na identificação de suas tarefas e auxiliar seus seu planejamentos, para que estas tarefas sejam cumpridas com êxito.
  • Procura pelo novo e pela complexidade: é dever do professor estimular os alunos a buscarem sempre conhecer mais, por meio de situações desafiadoras e que incentivem a descoberta.
  • Consciência da modificabilidade: o professor deve também apresentar aos estudantes caminhos novos, mostrando que há sempre estratégias e recursos distintos para resolver uma mesma tarefa ou problema.
  • Sentimento de pertença: é dever do professor também fazer com o estudante sinta que pertence àquele espaço. Isso é fundamental para que o aluno faça amizades e participe de grupos de amigos.
  • Construção do vínculo: o professor deve criar meios para se vincular aos alunos e fazer com os estudantes se liguem a ele, confiando e acreditando no que ele diz e deixando a aula mais atrativa.
Bola ou Búlica: Professor Vinicius Fernandes estreia sua coluna semanal no JPA
Vinicius Fernandes Batista é professor, tradutor e revisor. Um carioca que não gosta do Rio de Janeiro, mas adora a trinca de V: verdade, vinho e viagem

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