Bolsonarismo- A ameaça continua

Os atos terroristas do dia 08 de janeiro estão sendo considerados o maior ataque à democracia desde a redemocratização, mas será que aquela manifestação da ira bolsonarista encontrou um fim em si mesmo?

A ascensão de Bolsonaro ao poder em 2018 deu início a um nova fase da história política brasileira, marcada pelo empoderamento dos grupos de extrema direita no país.

Esse não é um fenômeno isolado, uma vez que pode ser observado também nos EUA e em países da Europa, locais nos quais os Bolsonaro buscam inspiração para a sua empreitada antidemocrática.

Baseada em pautas morais que seduzem a parcela conservadora da nossa sociedade que, por razões culturais já é bastante conservadora, a ideologia extremista da direita chegou ao lar de muitos brasileiros através das igrejas, principalmente as neopentecostais.

O descolamento da realidade que caracteriza o fanatismo serve bem aos propósitos dos radicais, o que explica o fato de tantas mentiras absurdas, nortearam o comportamento político de milhões de brasileiros.

O descolamento da realidade é tão profundo que impede, por exemplo, o desenvolvimento de uma consciência de classe nos fiéis, que acreditam estar irmanados aos mais ricos na luta por uma realidade bíblica. Tal qual ovelhas afoitas, correm em transe para a boca do lobo.

Por outro lado, não são as pautas morais que despertam os interesses das elites nos movimentos da extrema direita.

Os mais ricos veem no extremismo de direita uma possibilidade segura e contundente de defender seus interesses, afastando as ideias de justiça social e concessão de direitos à classe trabalhadora. Seu conservadorismo passa pela ideia de conservar as desigualdade, conservar a exploração e a exclusão. Essa necessidade explica o apoio das eleitos ao fascismo e ao nazismo após a Primeira Guerra Mundial, ao Golpe Militar de 1964 no Brasil, por exemplo. Nem precisaríamos ir tão longe, já que as investigações sobre os atos golpistas do último dia 08 de janeiro revelaram que grandes empresários estavam por trás do financiamento dos atos.

A depredação protagonizada por bolsonaristas radicais nas sedes dos Três Poderes, tem sido considerada por muita gente como uma tentativa fracassada de golpe, mas pode tratar-se apenas de um dos evento do golpe.

A extrema direita trabalha com o caos. Ela precisa da instabilidade social, política e econômica para alimentar suas teorias conspiratórias e o seu ódio. Os eventos do dia 08 de janeiro, assim como os acampamentos, bloqueios e os ataques do dia da diplomação do presidente (12/12) fazem parte de um enredo que tem como objetivo o instauração do caos. É nesse cenário, que ¹a serpente do fascismo vê seus ovos eclodirem e nesse sentido, os militares possuem um papel fundamental.

A cumplicidade das forças de segurança para com o bolsonarismo não pode ser tratada como novidade. Das Policias Militares, passando pela Civil e Polícia Federal, às Forças Armadas, a simpatia por Bolsonaro é notória. Até aí tudo bem? Não. Desde quando o bolsonarismo revelou sua face golpista, já nos primeiros dias de 2019, tal simpatia tornou-se perniciosa. E o que vimos desde então? Muitos agentes subvertendo seus ofícios e maculando as suas corporações ao defenderem e protagonizarem ataques à democracia numa escalada de discursos e atitudes que culminaram no dia 08 de janeiro, embora não tenha se encerrado lá.

O maior desafio do governo Lula será lidar com o cenário político que está posto: governar para um povo manipulado pela fé, para uma classe média alienada, com um Congresso conservador e cercado por militares historicamente golpistas.

Neste cenário um dilema se impõe: Se Lula demonstrar complacência, poderá estar demonstrando sinal de fraqueza, encorajando assim os seus opositores antidemocráticos. Por outro lado, se alimentar picuinhas inócuas, poderá acirrar a já conhecida animosidade das forças de segurança contra o seu governo, aumentando ainda mais a instabilidade politica. E eis a questão. O governo terá que escolher um caminho e seja qual for, tortuoso será. Não existe possibilidade de conciliação ou diálogo com fascistas pela própria natureza do fascismo, que só conhece a truculência e o conflito.

A História nos leva a acreditar que o movimento bolsonarista está longe de chegar ao fim. Os fascistas clamam por sangue e agem para instigar os democratas a clamarem também. Uma ameaça do fascista só termina quando os fascistas deixam de existir.

Não poderia terminar essa reflexão sem mencionar Nicolau Maquiavel, que uma vez sugeriu que o bem se faz aos poucos, o mal de uma vez só.

Rogério Carvalho é Professor de História, Filosofia e Sociologia. Autor de “A Construção da Identidade Cultural Buziana” , ” Professor – A Ressignificação do Fazer Escolar” e “Idiossincrasias- Percepções Cotidianas”.
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