Escolas do Grupo Especial repetem erro de 2022

Após o cancelamento da festa em 2021, por causa da pandemia do novo coronavírus, em 2022 os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, realizados no atípico mês de abril, foram marcados pelo gigantismo das alegorias de todas as agremiações, causando dificuldades e prejuízos a muitas delas.

Menos de um ano depois, novamente o que se viu na Marquês de Sapucaí foram carros alegóricos enormes (muitos acoplados), e todas as comissões de frente com elemento cenográfico (que é um elemento de apoio para que seus responsáveis em cada uma das escolas de samba consigam colocar suas ideias em prática) que mais pareciam outra alegoria devido ao seu tamanho.

Primeira noite com exibições abaixo do esperado

A primeira noite de desfiles começou com a grande surpresa proporcionada pelo Império Serrano. A escola da Serrinha, de volta ao Grupo Especial após dois anos longe, não conseguirá a quebra do jejum de 40 anos sem títulos, mas permanecerá na elite.

Em seguida, a atual campeã Grande Rio apresentou um bela plástica, mas conjunto alegórico teve problemas com iluminação. Além disso um tripé travou na pista e acarretou problemas em evolução. Depende da complacência dos jurados para conseguir retornar no Desfile das escolas de samba campeãs (voltam as seis melhores).

Terceira agremiação a cruzar o Sambódromo, a Mocidade Independente de Padre Miguel realizou uma apresentação irregular, com evolução problemática e a falta de acabamento nas alegorias, o que deve relegá-la, pela primeira vez, ao grupo de acesso (oficialmente chamado de Série Ouro, a segunda divisão do carnaval carioca).

Quarta escola a entrar na avenida, a Unidos da Tijuca apresentou os mesmos erros da anterior: erros em evolução e problemas de acabamento nas alegorias. Além disso precisou conviver com as notórias agruras no som da pista. Desde 2016 a agremiação do Borel não volta a desfilar no sábado, e não será em 2023 que isso acontecerá.

Dono de um dos piores sambas do ano e do enredo mais confuso, na estreia do carnavalesco Edson Pereira, o Salgueiro foi mais um a sofrer com o gigantismo das suas alegorias, causando problemas de evolução (constituição de clarões na pista e escola por muito tempo parada). Com isso deve ficar fora do desfile das campeãs pela primeira vez desde 2007.

Fazendo valer o refrão “Os últimos serão os primeiros”, a Mangueira, aproveitando-se do melhor samba do ano, fez um desfile arrebatador no início e, sem grandes erros, foi a melhor de domingo. Não deve ser a campeã, mas está entre as quatro melhores e com um lugar garantido no sábado.

Segunda-feira apresentou as três melhores escolas de samba do ano

Abrindo a última noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial, a Paraíso do Tuiuti mostrou que se reforçou acertadamente. Além de arrebatar vários Estandartes de Ouro (prêmio aos melhores de cada segmento), a Azul e Amarela de São Cristóvão, apesar do canto irregular do seu belo samba, vive a expectativa de que possa repetir a dose de 2018, quando surpreendeu com o vice-campeonato, e figure mais uma vez no desfile de sábado.

Primeira escola de samba a comemorar seu centenário, a Portela começou emocionando, porém a maior campeã do carnaval carioca, com 22 títulos, não está na briga pelo título e sequer deve voltar no Desfile das Campeãs. Foram muitos problemas: evolução, alegorias, comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira.

Mordido após tantas críticas recebidas nos últimos anos, o carnavalesco Paulo Barros, de volta à Vila Isabel (em 2018 havia sido sua última passagem pela azul e branca, com os integrantes demonstrando descontentamento com as fantasias por estarem muito pesadas ou machucando), abusou do talento e criatividade, proporcionando à escola de Noel realizar um desfile de alto nível. E ainda por cima o casal de mestre-sala e porta-bandeira inovou, trocando de roupa na avenida. Lugar garantido entre as três primeiras colocadas.

Rebaixada em 2019 e de volta à elite em 2022, quando fez um grande desfile, mas terminou fora das campeãs, resultado considerado pela escola e por muitos sambistas como injusto, a Imperatriz Leopoldinense investiu pesado para 2023 e trouxe o carnavalesco Leandro Vieira. Resultado: estética impressionante e exibição baseada num cordel. Além disso, a comunidade mostrou força no canto do samba, e a Rainha de Ramos só não será campeã depois de mais de duas décadas (o último título foi em 2001) por detalhes. O vice-campeonato será o primeiro desde 1996.

Cercada de expectativa por ter o melhor enredo de 2023, a Beija-Flor viu parte do seu Abre-Alas pegar fogo ainda na concentração. Além disso, mesmo com a comunidade dando um show de chão e canto, carros alegóricos com falhas de acabamento, muita teatralização e pouca carnavalização deixam a escola fora da briga pelo título, mas ainda na luta por un lugar no sábado das campeãs.

Tecnicamente e plasticamente perfeita, a Viradouro encerrou os desfiles oficiais do Grupo Especial deste ano. Apresentando grande conjunto estético e a melhor comissão de frente entre todas, a escola de Niterói deve ficar com o título. Além disso assegura outra marca: desde o seu retorno à elite, em 2019, sempre termina entre as três primeiras colocadas.

Bola ou Búlica: Professor Vinicius Fernandes estreia sua coluna semanal no JPA
Vinicius Fernandes Batista é professor, tradutor e revisor. Um carioca que não gosta do Rio de Janeiro, mas adora a trinca de V: verdade, vinho e viagem

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