O professor e a obsessão pelo conteúdo da matéria

 

Após dois anos turbulentos (2020 e 2021), principalmente nas escolas públicas, um dos grandes desafios atuais tem sido o que os professores podem fazer para recuperar o chamado “tempo perdido”.

Com certeza, em qualquer escola do Brasil, todos conhecemos um docente que entra na sala de aula e lê o programa de um livro sem explicar nada, ou aquele que parece estar sempre com pressa e não deixam de dizer “Não vai dar tempo de ver todo o conteúdo da matéria”.

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O retorno ao modelo presencial escancarou um clima de estranhamento à normalidade, que infelizmente nem todos conseguem perceber. No corpo discente há um crescimento exacerbado de crises de ansiedade, estresse, agressividade e até mesmo depressão. Várias pesquisas pelo país mostram esse quadro.

 

No entanto, mesmo assim, a dinâmica é a mesma de antes. Professores continuam certos de que o seu único dever é cumprir a programação didática (e olha que nem fazem plano de aula), dar o conteúdo da matéria, se concentrar nas notas que os alunos obtêm e criar uma quantidade excessiva de atividades com o objetivo de que os estudantes consolidem os seus conhecimentos.

 

Evidentemente, com esse modelo, fica faltando alguma coisa. Esta ansiedade por cumprir o estipulado no plano de curso e recuperar dois anos anteriores (alguns com o furor pedagógico de “terminar” o livro) acaba arruinando toda a criatividade dos jovens que, em vez de aprender, tentam entender como podem lidar com toda essa quantidade de informação que recebem. E pior: possivelmente não vão se lembrar de nada ou quase nada no ano seguinte.

 

Conversando com um grupo de professores, fica claro que poucos analisam se a sua maneira de proceder é a correta. A pouca empatia oferecida ao alunado, especialmente ao adolescente, e o quanto o professor influencia o aprendizado, aparentemente, quase ninguém quer questionar. Principalmente quando os estudantes são indiferentes para eles, mesmo com as sequelas deixadas pela COVID-19 e trazidas para a sala de aula.

“O professor medíocre fala. O bom professor explica. O professor superior demonstra. O grande professor inspira”. (William A. Ward)

Bola ou Búlica: Professor Vinicius Fernandes estreia sua coluna semanal no JPA
Vinicius Fernandes Batista é professor, tradutor e revisor. Um carioca que não gosta do Rio de Janeiro, mas adora a trinca de V: verdade, vinho e viagem

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