Viva Paulo Freire, do Brasil!

Viva Paulo Freire, do Brasil!

—-Viva Paulo Freire, do Brasil!—-

Em 2021, Paulo Freire, se vivo, completaria cem anos de idade. O centenário foi lembrado e homenageado inclusive pela Google LLC, a poderosa multinacional de serviços online e software dos Estados Unidos, que trocou o próprio logo pela foto do brasileiro.

Conhecido desde 2012 como “Patrono da Educação Brasileira”, ele é autor de inúmeras obras sobre pedagogia e um dos pensadores mais citados em trabalhos acadêmicos. Em vida foi homenageado por 35 universidades de todo o mundo e também foi reverenciado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura), com o Prêmio Educação para a Paz, em 1986.

Sua perspectiva crítica sobre a educação nos anos 60 o levou ao exílio, mas foi neste período fora do Brasil que o educador pernambucano escreveu sua mais notória obra, a “Pedagogia do Oprimido”. Ele clamava por um ensino baseado no diálogo, no qual professor e estudante constroem o conhecimento em conjunto, em vez de ser simplesmente depositado na cabeça dos discentes, o que chamava de “lógica bancária”.

Justamente por sua filosofia não admitir a doutrinação, Paulo Freire não é aceito pela extema direita. Se em 2003, o então ministro da Educação Cristovam Buarque inaugurou, na frente da sede do Ministério, em Brasília, um monumento em sua homenagem, em 2019, Abraham Weintraub, então comandante da pasta, chamou esta obra de “lápide da educação” e afirmou que o educador pernambucano “representa o fracasso total e absoluto do Brasil no ranking Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos”.

O atual presidente da república, Jair Bolsonaro, também já criticou Freire em mais de uma oportunidade, inclusive chamando-o de “energúmeno”, bem ao estilo incivilizado, grosseiro, boçal e tosco que lhe caracterizam. Em 2022, um decreto editado pelo Excelentíssimo extingiu a Medalha Paulo Freire, um prêmio concedido a educadores ou instituições que se destacaram na luta pela erradicação do analfabetismo no país.

Um de seus filhos, Eduardo Bolsonaro, deputado federal e chamado de 03 pelo pai, declarou certa vez em seu perfil no Twitter: “Educação do país de péssima qualidade e não se pode nem criticar o patrono desta bagunça? Isso não é justiça, é militância doentia. Nunca foi tão difícil fazer o certo e consertar o Brasil. Mas nós somos chatos e estamos certos, então vamos adiante”, escreveu após a Justiça proibir o governo de atentar contra a dignidade de Paulo Freire.

“O objetivo da pedagogia freireana é fazer com que cada uma e cada um aprendam a dizer a própria palavra, ou seja, tenham a capacidade de ler o mundo e se expressar diante do mundo. É a pedagogia da autonomia, da esperança: libertadora no sentido de as pessoas terem as capacidades de se libertarem das opressões que buscam calá-las”, diz o educador Daniel Cara, professor da Universidade de São Paulo e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

O legado de Paulo Freire ainda pode ser considerado atual, pois defende a importância de compreender a realidade do alunado, a formação de cidadãos críticos, o respeito às diferenças e o empoderamento dos que estão à margem da sociedade. Que os educadores do Brasil, em outubro, saibam escolher quem é o benfeitor da educação brasileira.

Bola ou Búlica: Professor Vinicius Fernandes estreia sua coluna semanal no JPA

* Vinicius Fernandes Batista é professor, tradutor e revisor. Um carioca que não gosta do Rio de Janeiro, mas adora a trinca de V: verdade, vinho e viagem.

 

 

 

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