O futuro do ensino de língua espanhola em Armação dos Búzios

O futuro do ensino de língua espanhola em Armação dos Búzios

O futuro do ensino de língua espanhola em Armação dos Búzios——

 

 

Armação dos Búzios sempre foi um reduto de argentinos (e nativos de outros países). Segundo dados do Convention Bureau, dos estrangeiros na cidade, 70% é historicamente composto por nossos vizinhos, que têm o espanhol como idioma oficial.

Além disso, desde a década de 90, com a globalização em marcha, já se percebia um crescimento expressivo de interesse nessa língua, em função de alguns fatores como a expansão das relações comerciais entre Brasil e países falantes de espanhol (principalmente com o Mercosul, criado em 1991, e a chegada de empresas espanholas ao país), e a influência da cultura hispânica (muito em função do sucesso adquirido pela música, literatura e esporte), que incentivaram o mercado de ensino do idioma, o chamado “boom do espanhol”.

Em 2005, com a convocação dos dois primeiros colocados do concurso público de 2003, pela primeira vez o município tinha docentes de língua espanhola em seu quadro efetivo, ambos indo trabalhar no então recém-construído Colégio Municipal Paulo Freire. Dessa forma Búzios se antecipava à Lei Federal nº 11.161 de 05 de agosto de 2005, que tornava o ensino do idioma obrigatório nas escolas públicas e privadas de ensino médio em todo o território nacional, a ser implementada até o ano de 2010.

Em 2007 a situação melhora ainda mais, com a inclusão da disciplina nos dois últimos anos finais do Ensino Fundamental. E em 2009 o espanhol passa a ser ensinado desde o sexto ano, o que acarreta em novas vagas no concurso de 2012.

Em 2013, o alunado da rede municipal, no “segundo segmento” do Ensino Fundamental, passa a ter que (não se pode ver a escolha como algo positivo) optar por inglês ou espanhol. Já no Ensino Médio, indo na contramão do Enem, os discentes seguiram com os dois idiomas no currículo. No mesmo ano, o então Secretário de Educação cria o Centro de Idiomas municipal, sendo matéria veiculada em portais e jornais de ampla abrangência (https://g1.globo.com/rj/regiao-dos-lagos/noticia/2013/05/prefeitura-de-buzios-rj-cria-centro-de-idiomas-municipal.html).

No entanto, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada por Michel Temer, cita o inglês como idioma escolhido para ser o único obrigatório a partir dos Anos Finais do Ensino Fundamental em todas as Unidades Escolares do Brasil, pelo seu caráter de comunicação internacional. O documento, criado em 2017, prevê o desenvolvimento de seis competências e para que esse processo ocorra de maneira natural são estipulados cinco eixos (oralidade, leitura, escrita, conhecimentos linguísticos e dimensão intercultural).

Leia também:

Bola ou Búlica: Professor Vinicius Fernandes estreia sua coluna semanal no JPA

Home Offce é uma tendência?

Viva Paulo Freire, do Brasil!

Nesse sentido, a obrigatoriedade do ensino de língua espanhola foi precarizada. E Armação dos Búzios parece seguir no mesmo rumo que boa parte do Brasil, nesse novo contexto de ensino que se apresenta para os professores do componente que já atuam nas escolas da rede, ignorando que o mercado de trabalho exige profissionais multiculturais e que os cidadãos buzianos já sofrem com a concorrência de nativos.

Recentemente, os próprios docentes (concursados e contratados) das Unidades Escolares que têm anos finais do Ensino Fundamental decidiram pela retirada da língua espanhola da matriz curricular desse segmento, devendo esta disciplina ser ofertada de maneira optativa, porém sem dar garantias aos professores de que terão seus direitos assegurados e condições igualitárias de trabalho, alijando de forma subliminar o espanhol do currículo dessas escolas. Tal decisão ainda depende da aprovação do Conselho Municipal de Educação (CME), mas de antemão já se sabe que uma decisão tão séria não poderia ter sido tomada sem a participação de toda a comunidade escolar. Os prejuízos serão grandes e incontáveis, e o retrocesso evidente.

 

Bola ou Búlica: Professor Vinicius Fernandes estreia sua coluna semanal no JPA
Vinicius Fernandes

Vinicius Fernandes Batista é professor, tradutor e revisor. Um carioca que não gosta do Rio de Janeiro, mas adora a trinca de V: verdade, vinho e viagem.

Leia também:

Bola ou Búlica: Professor Vinicius Fernandes estreia sua coluna semanal no JPA

Home Offce é uma tendência?

Viva Paulo Freire, do Brasil!

 

O futuro do ensino de língua espanhola em Armação dos Búzios

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*